Pelas mãos de Anabela e Teresa já fomos de Atenas a Pequim. A história dos equipamentos da seleção confunde-se com as memórias dos atletas e das provas por onde andaram as cores nacionais.
Anabela Carvalho já perdeu a conta. Não sabe quantos moldes já fez para a selecção portuguesa de triatlo. Em 20 anos de relação entre a Onda e a Federação, há modelos para quase todos os gostos e desgostos. A história dos equipamentos cruzam-se com as memórias dos triatletas e as centenas de provas por onde andaram as cores nacionais. No baú da equipa masculina salta à vista o “amarelinho” da Taça da Europa do Funchal, em 2001, ou o prateado que Bruno Pais vestiu em 2005. “Lembro-me muito bem desse”, recorda Anabela.

Pelas mãos da modelista, Portugal já correu o mundo. Em todos os Jogos Olímpicos, os equipamentos tiveram a assinatura da Onda, as mãos de Anabela e a direcção de produção de Teresa Dias. É um trabalho de equipa que no início não foi fácil. “Já tínhamos uma noção do ciclismo e foi um bom ponto de partida para desenvolvermos os equipamentos de triatlo, porque apesar de não serem iguais, há princípios que são idênticos, como a questão do reforço entre pernas que tem de assentar muito bem na bicicleta”, explica Teresa.
As duas mulheres falam dos equipamentos como quem fala de uma obra de arte. Sorriem quando abrem o baú das memórias e lembram o papel dos atletas no aperfeiçoamento dos moldes na fábrica de Barcelos. “A Vanessa Fernandes vinha cá com o pai para nós acertarmos tudo”, recorda Anabela.
Agora a máquina já está oleada. Depois das dificuldades iniciais, o molde de um trisuit demora actualmente cerca de duas horas a ficar pronto. “A maior dificuldade é garantir que fica bem justo”, detalha a modelista. O desafio é outro. Anabela solta uma gargalhada. “Sim, o grande desafio é o fato de neoprene”, graceja. O atelier acompanha a modelista na boa disposição. “O material em si é difícil de trabalhar por causa dos cálculos que é preciso fazer em função do corpo da pessoa. Quando começámos, era por tentativa e erro”, explica. Para termos uma noção mais exacta da dificuldade, enquanto um molde de um trisuit demora cerca de duas horas a estar concluído, o “projecto” do neoprene nunca fica terminado em menos de dois dias.
Na fábrica, como nas provas de triatlo, os desafios são para serem superados. As inovações tecnológicas colocam hoje a ciência também ao serviço do desporto, sendo aliadas fundamentais na melhoria da performance dos atletas. É por isso que Anabela e Teresa dizem que não se cansam de aprender e reaprender. O objectivo é vestir os triatletas e ajudá-los a concretizar os seus objectivos porque, como fazem questão de dizer, “sempre que eles ganham, nós aqui também ganhamos”.

