A Triatl3ta acompanhou desde Lisboa a participação lusa no Ironman de Lanzarote no passado dia 26 de Maio Em primeira mão, ouvimos Sérgio Marques, que conseguiu ali garantir mais uma presença na grande final, no Hawaii. Sérgio fala-nos aqui da sua prova.
“O Ironman Lanzarote serviu como um mudar de página no que ao triatlo diz respeito, já que foi o primeiro Ironman a correr como “Amador” (Age Group). Poderia escrever sobre o assunto Amador/Elite/Profissional mas, correndo o risco de não agradar a toda a gente e de ser muito extensivo, passo à frente. Escolhi esta prova por vários factores: preço, conveniência, inexistência de drafting, mas o principal foi mesmo ser provavelmente a única prova do circuito que mantém a tradição de juntar TODOS na mesma partida. Claro que o meu 3º lugar acompanhado de dois top 10 (em edições anteriores) fazem deste um destino sempre apetecível.
Estabeleci alguns objetivos para o inicio que só alguns conheciam e que sinceramente me pareceriam razoáveis. Terminar no top 10, qualificar para o Hawaii, e caso a coisa estivesse a dar para o torto, terminar à frente da primeira senhora.
Depois de um ano miserável com uma lesão, passei algum tempo parado para tentar recuperar da mesma, o que parece que aconteceu. A partir daí não tive grandes problemas em preparar a prova o melhor possível dentro da azáfama do dia a dia.
Quanto à prova, foi um prazer fazê-la sabendo que estavam tantos portugueses em prova e outros tantos a acompanhar no local. Em espécie de resumo antecipado a prova foi bem gerida mas nivelada por baixo, no que ao rendimento diz respeito.
Na natação tive bastantes problemas na primeira volta porque defini sair do lado mais à direita em relação à saída, que inevitavelmente daria um percurso mais largo que na trajectória ideal. O que é certo é que agora que está concluído parece-me que sair junto à trajectória ideal seria melhor opção para as minhas características. Saí com 400 atletas à frente e nunca consegui encontrar a melhor trajectória e mesmo na segunda bóia, a cerca de 1000m ainda estava da parte de fora do pelotão. Só quando efectivamente comecei a nadar mais rápido que todos à minha volta é que consegui ir para onde queria. Não esperava um grande tempo da natação, já que para além de nadar muito pouco, nos últimos meses estou a tentar melhorar a técnica para que me permita nadar melhor sem fato a longo prazo. De qualquer forma, olhando para os resultados parece-me que perdi muito tempo na primeira volta em comparação com a segunda, onde nadei relativamente fácil, navegando pelo grupo. Julgo que uma táctica diferente teria benefícios na primeira volta o que traria um tempo bem melhor no final, mas como disse, não estava demasiado preocupado com mais ou menos um minuto na água.
A transição foi o regular, nada de novo, tudo tranquilo e bem preparadinho.
Para a bicicleta tinha definido um objetivo relativamente conservador de 5h15 - 5h20. Quando falamos de Lanzarote é difícil prever o tempo de bicicleta tal é a variabilidade das condições climatéricas (vento), adicionalmente a organização foi forçada a mudar o percurso logo o tempo previsto era nada mais nada menos que isso.
Comecei fácil por opção, a primeira subida era logo ali e por sinal mais áspera que a antiga. Passo uns, passam outros, tudo normal subida acima. Foi nos falsos planos que me pareceu que tinha algumas dificuldades em manter um nível de potência dentro do que queria. A potência não é uma religião para mim é apenas um indicador e, para a prova, tinha previsto que uma média de 235W brutos era suficiente para chegar à corrida com pernas e com um tempo a rondar o pretendido. Parecia no entanto que estava constantemente 10 a 15W abaixo do normal. Não seria uma catástrofe e até me mantinha em boa posição durante os primeiros 100km, onde parei para recolher o abastecimento especial, já que optei por fazer a prova com nutrição pessoal em vez do oferecido pela organização. A descer do ponto mais alto do percurso mesmo antes de começar a subir para o Mirador del Rio, bati com a roda de trás num buraco a cerca de 70km/h(!) o que literalmente fez explodir o boyaux. Foi preciso alguma destreza para parar a bicicleta sem ir ao chão, mas lá parei. A coisa não correu mal no que diz respeito a trocar o boyaux, excepto ter-me cortado todo com a lâmina e algum tempo extra para ter certeza que o suplente ficava bem centrado e no sítio certo já que ainda faltavam descidas muito rápidas e sinuosas e, a partir dali qualquer erro seria desastroso. Perdi cerca de 6 minutos com a troca (segundo o relógio), provavelmente mais algum para voltar ao ritmo já que a subida ao Mirador foi dolorosa. A partir daí foi andar sozinho a tentar minimizar estragos mas sempre no mesmo registo que trazia até ao furo. Cheguei ao fim já com aquele feeling típico de “estou farto de andar de bicicleta”. No geral não foi mau, mas na verdade abaixo do que pretendia. O tempo apesar disso não foi mau (comparando com todos os tempos incluindo os mais rápidos) tendo em conta o furo com cerca de 5h27.
Transição mais uma vez sem problemas além dos tradicionais “javalis” instalados nas pernas após o ciclismo.
A corrida teoricamente seria o meu forte, mesmo tendo em conta que durante um ano a corrida foi a fonte de todos os problemas. Cedo percebi bem em linha com o ciclismo que correr a 4m05 4m10 na primeira metade (o meu objectivo pessoal) não estava a ser cumprido, ao invés estava nos 4m15 e sem ser propriamente fácil como deveria ser. Desde o furo que a classificação geral tinha ficado para segundo plano mas a meio da corrida parecia que estava a perder a concentração e o ritmo a baixar. Foi aí que entrou a Vanessa, o Hélder, o Sedi, etc... que “espicaçaram um pouco a besta” para voltar a ritmos decentes para não haver dúvidas relativamente ao tipo de férias que vou passar ao Hawaii!
Não foi uma prova nada fácil. Lanzarote por definição não é fácil, mas pessoalmente estive um furo abaixo do pretendido, o que faz parte, e apesar disso brinquei com o que tinha à disposição e só por aí estou contente.
Resta-me agradecer ao Ricardo da Alpha Cycling, Rui da MassBody e principalmente ao Alfredo da Fisio-T por me terem, com alguma paciência, ajudado com a recuperação da minha lesão.”
Na próxima edição da revista Triatl3ta não perca a reportagem e as imagens exclusivas da participação portuguesa em Lanzarote.